Tenho aprendido com o tempo que a felicidade vibra na
freqüência das coisas mais simples. Que o que amacia a vida, acende o riso,
convida a alma pra brincar, são essas imensas coisas pequeninas bordadas com
fios de luz no tecido áspero do cotidiano. Como o toque bom do sol quando pousa
na pele. A solidão que é encontro. O café da manhã com pão quentinho e sonho
compartilhado. A lua quando o olhar é grande. A doçura contente de um cafuné
sem pressa. O trabalho que nos erotiza. Os instantes em que repousamos os olhos
em olhos amados. O poema que parece que fomos nós que escrevemos. A força da
areia molhada sob os pés descalços. O sono relaxado que põe tudo pra dormir. A presença
da intimidade legítima. A música que nos faz subir de oitava. A delicadeza
desenhada de improviso. O banho bom que reinventa o corpo. O cheiro de terra. O
cheiro de chuva. O cheiro do tempero do feijão da infância. O cheiro de quem se
gosta. O acorde daquela risada que acorda tudo na gente. Essas coisas. Outras
coisas. Todas, simples assim.
Ana Jácomo
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