Vou
ao supermercado e observo o crescimento do setor de dietéticos. Abro revistas e
me deparo com as exigências de ter um corpo esbelto. As clínicas de cirurgia
plástica estão com a agenda lotada de homens e mulheres esperando sua vez para
lipoaspirar, contar, reduzir. A sociedade toda conspira a favor da magreza, e
de certo modo isso é positivo, sem magro faz bem para a auto-estima e para a
saúde. Mas não tenho visto ninguém estimular outro tipo de dieta igualmente
necessária para o bem estar da população. Encontro suco light, chocolate light,
iogurte light, mas pessoas light é raridade.
Muita
gente se preocupa em ser magro, mas não se preocupa em ser leve. Tem criaturas
aí pesando 48 quilos e é um chumbo. São aqueles que vivem se queixando. Possuem
complexo de perseguição, acham que o planeta inteiro está contra eles. Não se
dão conta de sua arrogância, possuem a certeza de que são a razão da existência
do universo. Estão sempre dispostos a fazer uma piadinha maldosa, uma
fofoquinha desabonadora sobre alguém. Ressentidos, puxam o tapete dos outros
para se manter em pé. Não conseguem ver graça em nada, não relevam as chatices comuns
do dia-a-dia, levam tudo demasiadamente a sério. São patrulhadores, censores,
carregam as dores do mundo nas costas. Magrinhos, é verdade. Mas que gente
pesada.
Ser
minimalista todo mundo acha moderno, mas ser leve - cruzes! - parece pecado
mortal. Os leves, segundo os pesados, não têm substância, não têm profundidade,
não têm consciência intelectual: não são leves, e sim levianos. Os pesados não
conseguem fechar o zíper das suas roupas de tanto preconceito saltando pra
fora.
Não
bastasse a carga tributária, a violência, a burocracia e a corrupção, ainda
temos que enfrentar pessoas rudes, sem a menor vocação para se divertir.
Diversão - segundo os pesados, mais uma vez - é algo alienante e sem serventia.
Eles não entendem como alguém pode extrair prazer de coisas sérias como
trabalho e família. Não entendem como é que tem gente que consegue viver sem
armar barracos e criar problemas.
Eu
proponho uma campanha de saúde pública: vamos ser mais bem-humorados, mais
desarmados. Podemos ser cidadãos sérios e responsáveis e, ao mesmo tempo,
leves. Basta agir com delicadeza, soltura, autenticidade, sem obediência cega
às convenções, aos padrões, aos patrões. Um pouco mais de jogo de cintura, de
criatividade, de respeito às escolhas alheias. Vamos deixar para sofrer pelo que
é realmente trágico, e não por aquilo que é apenas um incômodo, senão fica
impraticável atravessar os dias.
Dores
de amor, falta de grana e angústias existenciais são contingências da vida, mas
você não precisa soterrar os outros com seus lamentos e más vibrações. Sustente
seu próprio fardo e esforce-se para aliviá-lo. Emagreça onde tem que emagrecer:
no espírito, no humor. E coma de tudo, se isso ajudar.
Martha
Medeiros
Parte do livro “Coisas da Vida”, publicado em 2005
Ola amiga passando para conhecer e te seguir
ResponderExcluirsou blogueira unida também.
Vá me ver, ficarei feliz.
Beijos.