Estive pensando nesse
mistério que faz com que a vida da gente se encante tanto por outra vida. E
sinta vontade de escrever poemas. Garimpar estrelas. Deixar florir pelo corpo
os sorrisos que nascem no coração. Nesse mistério que nos faz olhar a mesma
imagem inúmeras vezes, sem cansaço, seja ela feita de papel ou de memória. Que
nos faz respirar feliz que nem folha orvalhada. Querer caber, com frequência,
no mesmo metro quadrado onde a tal vida está. Cantarolar pela rua aquela canção
que a gente não tinha a mínima ideia de que lembrava.
Estive pensando nesse
mistério que faz com que a vida da gente encontre essa vida na multidão
planetária de bilhões de outras. E sem saber que ela existia, perceba ao
encontrá-la que sentia saudade dela antes de conhecê-la. Estive pensando nesse
mistério que faz com que aquela vida que acaba de encontrar a nossa nos deixe
com a impressão de estar no nosso caminho desde sempre, como se fosse um sol
que esteve o tempo todo ali e a gente somente não o ouvia cantar. Nesse
mistério que nos faz trocar buquês dos olhares mais cuidadosos. Que nos faz
querer cultivar jardins, lado a lado. Nesse mistério que faz com que a nossa
vida queira um bem tão grande à outra vida, que vai ver que isso já é uma prece
e a gente nem desconfia.
Estive pensando nesse
mistério lindo que você é para alguém e alguém é para você ou que ainda serão
um para o outro. Nessa oportunidade preciosa dos encontros que nos fazem crescer
no amor com o tempero bom da ludicidade. Nesse clima de passeio noturno em
pracinha de cidade pequena. Nessa paz que convida o coração pra recostar e
repousar cansaços. Nesse lume capaz de clarear um quarteirão inteirinho da
alma. Nesse abraço com braços que começam dentro da gente. Nessa vontade de
deixar o mundo todo pra depois só para saborear cada milímetro do momento
embrulhado pra presente.
Ana Jácomo
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