Era uma vez uma tartaruga que vivia num lago com dois patos, muito seus amigos. Ela
adorava a companhia deles e conversava até cansar. A tartaruga gostava muito de
falar. Tinha sempre algo a dizer e gostava de se ouvir dizendo qualquer coisa.
Passaram muitos anos nessa feliz convivência, mas uma longa seca acabou por
esvaziar o lago. Os dois patos viram que não podiam continuar morando ali e
resolveram voar para outra região mais úmida. E foram dizer adeus à tartaruga.
- Oh, não, não me deixem! Suplicou a tartaruga. - Levem-me com vocês, senão eu
morro!
- Mas você não sabe voar! - disseram os patos. - Como é que vamos levá-la?
- Levem-me com vocês! Eu quero ir com vocês! - gritava a tartaruga.
- Pensamos num jeito que deve dar certo - disseram - se você conseguir ficar
quieta um longo tempo. Cada um de nós vai morder uma das pontas de uma vara e
você morde no meio. Assim, podemos voar bem alto, levando você conosco. Mas
cuidado: lembre-se de não falar! Se abrir a boca, estará perdida.
A tartaruga prometeu não dizer palavra, nem mexer a boca; estava
agradecidíssima! Os patos trouxeram uma vara curta bem forte e morderam as
pontas; a tartaruga abocanhou bem firme no meio. Então os patos alçaram voo,
suavemente, e foram-se embora levando a silenciosa carga.
Quando passaram por cima das árvores, a tartaruga quis dizer: "Como
estamos alto!" Mas lembrou-se de ficar quieta.
Quando passaram pelo campanário da igreja, ela quis perguntar: "O que é
aquilo que brilha tanto?" Mas lembrou-se a tempo de ficar calada.
Quando passaram sobre a praça da aldeia, as pessoas olharam para cima, muito
espantadas.
- Olhem os patos carregando uma tartaruga! - gritavam. E todos correram para ver.
A tartaruga bem quis dizer: "E o que é que vocês têm com isso?"; mas
não disse nada.
Ela escutou as pessoas dizendo:
- Não é engraçado? Não é esquisito? Olhem! Vejam!
E começou a ficar zangada; mas ficou de boca fechada.
Depois, as pessoas
começaram a rir:
- Vocês já viram coisa mais ridícula? - zombavam.
E aí a tartaruga não aguentou mais. Abriu a boca e gritou:
- Fiquem quietos, seus bobalhões...!
Mas, antes que terminasse, já estava caída no chão. E acabou-se a tartaruga
tagarela.
Moral da história:
Há momentos na vida que é melhor ficar de boca fechada.
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