Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos da suposta
visita da dor, soltamos os cães. Apagamos as luzes. Fechamos as cortinas.
Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos. Ficamos quietinhos, poucos
movimentos, nesse lugar escuro e pouco arejado, pra vida não desconfiar que estamos
em casa. A encrenca é que, ao nos protegermos tanto da possibilidade da dor,
acabamos nos protegendo também da possibilidade de lindas alegrias. Impossível
saber o que a vida pode nos trazer a qualquer instante, não há como adivinhar
se fugirmos do contato com ela, se não abrirmos a porta. Não há como adivinhar
e, se é isso que nos assusta tanto, é isso também que nos dá esperança.
Ana Jácomo
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