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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Máscaras


 Uma vida inteira descobrindo as próprias máscaras e tentando retirar algumas (outras são indispensáveis). Certa vez escrevi que a cada manhã afivelo a máscara do dia, um rosto cômodo que me permite conviver melhor. O perigo é que alguma vez essa máscara se apegue de tal jeito à minha pele que eu não a consiga mais tirar, ou saber qual destes rostos é o meu: o que espreita o mundo ou o que olha para dentro e me vai construindo enquanto pessoa?Não falo de cretinice, hipocrisia, mas talvez de autopreservação. Ninguém deveria botar a cara na janela sem consciência de que pode levar um tapa ou uma cusparada. Nós que nos expomos escrevendo, seja em jornais, revistas ou livros, sabemos disso muito bem – como atores e atrizes, ou modelos, ou outros, que se tornam “celebridade”. Mas no caso deles, os de palco ou holofote, é um pouco diferente: seu narciso é “para fora”. O de quem escreve em geral é “para dentro”: não somos de palco, e o olhar pessoal pode nos intimidar. A mim me deixa um pouco fóbica, porém em geral as pessoas são simpáticas e afetuosas, então devo aceitar com bom humor.
Que a vida é em parte um baile de máscaras com as quais nos seduzimos uns aos outros, e nos enganamos diante do espelho, é sabido. O perigo reside na hora em que a última das máscaras cair, e tivermos de ver, nos grandes espelhos, um rosto preso ao nosso corpo, mas que parece não ter nada a ver conosco.

 Lya Luft  


Um comentário:

  1. Olá,vim retribuir a visita e lhe seguir!Seu blog é maravilhoso,parabéns!

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