Eu procurava o amor em jardins de cactos. Vinha buscando o
fruto em árvores erradas, e nas mordidas sentia o gosto azedo, que amarga no
fim da boca. Colhi amores podres, comidos pelo tempo e dor. Foi preciso
paciência – e outro tempo – amadurecendo um fruto para colhê-lo doce, suave,
terno e delicado. Simples como naturalmente é. Eu imaginava haver segredos por
trás dos espinhos. Mas é puro acaso que amores e espinhos se encontrem em botões
abertos ou fechados. A rima entre amor e dor é armadilha. O verdadeiro fruto
está ao alcance das mãos – mas é tão rasteiro, que quase não se vê. É preciso
passear sem fome para enxergá-lo redondo, vermelho. Para então mordê-lo
distraído como numa tarde de chuva.
Autoria Desconhecida
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