Uma vida inteira
descobrindo as próprias máscaras e tentando retirar algumas (outras são
indispensáveis). Certa vez escrevi que a cada manhã afivelo a máscara do dia,
um rosto cômodo que me permite conviver melhor. O perigo é que alguma vez essa
máscara se apegue de tal jeito à minha pele que eu não a consiga mais tirar, ou
saber qual destes rostos é o meu: o que espreita o mundo ou o que olha para
dentro e me vai construindo enquanto pessoa?Não falo de cretinice, hipocrisia,
mas talvez de autopreservação. Ninguém deveria botar a cara na janela sem
consciência de que pode levar um tapa ou uma cusparada. Nós que nos expomos
escrevendo, seja em jornais, revistas ou livros, sabemos disso muito bem – como
atores e atrizes, ou modelos, ou outros, que se tornam “celebridade”. Mas no
caso deles, os de palco ou holofote, é um pouco diferente: seu narciso é “para
fora”. O de quem escreve em geral é “para dentro”: não somos de palco, e o
olhar pessoal pode nos intimidar. A mim me deixa um pouco fóbica, porém em
geral as pessoas são simpáticas e afetuosas, então devo aceitar com bom humor.
Que a vida é em parte um baile de máscaras com as quais nos
seduzimos uns aos outros, e nos enganamos diante do espelho, é sabido. O perigo
reside na hora em que a última das máscaras cair, e tivermos de ver, nos
grandes espelhos, um rosto preso ao nosso corpo, mas que parece não ter nada a
ver conosco.
Lya Luft
Olá,vim retribuir a visita e lhe seguir!Seu blog é maravilhoso,parabéns!
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